Mesmo com redução de 1,6 mil acidentes em relação ao ano passado, o número de pessoas que morreram nos locais das colisões em Campo Grande cresceu 20% no ano, o que mostra que os sinistros foram mais letais.
De acordo com o Batalhão de Polícia Militar de Trânsito (BPMTran), apesar do declínio do número total de acidentes, queda de 12.149 (de janeiro a dezembro de 2023) para 10.548 neste ano, o número de mortes no trânsito saltou de 53 para 64 entre janeiro e ontem.
Conforme os números, do total de mortes registradas neste ano, 44 (68,75%) foram de motociclistas, 24 no primeiro semestre e outras 20 desde julho, além de 7 pedestres, 6 ciclistas, 3 motoristas e 4 passageiros.
Segundo levantamento da Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran), 24 das 35 vítimas de acidentes fatais no trânsito de Campo Grande no primeiro semestre deste ano eram motociclistas, o que representa 68,57% dos acidentes do período. Neste segundo semestre (julho até novembro), essa média se manteve, com 20 das 29 vítimas de acidentes fatais sendo motociclistas, representando 68,96% das mortes.
No ano passado inteiro, 39 dos 53 mortos no trânsito campo-grandense eram motoqueiros, ou seja, 69,64%.
Cabe destacar que os dados passados pelo BPMTran ao Correio do Estado foram compilados até o fim de 2023 e que, segundo o psicólogo da Agetran, Renan da Cunha Soares, representam apenas as mortes no local do acidente.
Soares destaca que, apesar do elevado índice de mortes ser de motociclistas, é preciso muita cautela para atribuí-las à imprudência daqueles que se locomovem sobre duas rodas.
“À primeira vista, temos de tomar cuidado com esse dado, porque corre-se o risco de atribuir essas mortes aos motociclistas por imprudência, porque se arriscam demais, quando as mortes podem estar atreladas muitas das vezes ao fator de vulnerabilidade dos condutores”, afirmou.
Outro fator destacado pelo psicólogo foi o que classificou como a “motociclização da frota” de Campo Grande, ou seja, o alto índice de motos comparado ao porcentual total de veículos na Capital.
Segundo Renan, desde que a administração municipal passou a compilar números relacionados a acidentes de trânsito, em 2011, levantamento realizado por meio do Gabinete de Gestão Integrada de Trânsito (GGIT), o porcentual mais baixo de motociclistas mortos foi registrado em 2017 – 50% do total de óbitos no trânsito.
“Algumas das questões presentes são o uso de velocidade excessiva, falta de formação dos condutores ou condutores que utilizam veículos para os quais não têm a CNH correspondente, além do consumo de álcool”, disse ao Correio do Estado.
Ele ainda destacou que o índice de mortes também se alinha à utilização do espaço público ou a sua má utilização. O psicólogo utilizou o exemplo das ciclovias para explicar.
“Muitos ciclistas morriam em Campo Grande, em 2011, registramos 20 mortes, em 2023, com o aumento das ciclovias no município, esse número caiu para 7”, destacou.
Para o profissional, a queda do número de mortes deve ser uma responsabilidade compartilhada entre condutores e gestão de velocidade, até porque a instalação de radares e gente para fiscalizar em todos os lugares é difícil.
“Ninguém mais do que o sujeito é o mais interessado em sua própria segurança. Nesse sentido, é preciso internalizar esse comportamento”, complementou.
Questionado sobre o comportamento dos campo-grandenses em relação às demais capitais do Brasil, o psicólogo salientou que a comparação por vezes pode ser desmedida, em virtude de vários fatores, como questões culturais e de rotina. Para ele, a comparação interna dá conta de explicar os números.
“A comparação que tem de ser realizada é conosco mesmos, registramos 132 óbitos em 2011 e 75 no ano passado, lembrando que não existe índice positivo, precisamos buscar que as pessoas não morram no trânsito, a pessoa que falece é pai de alguém, mãe de alguém, filho de alguém, mortes que precisam deixar de acontecer”, finalizou.
FATALIDADE
Na segunda-feira, uma motociclista, identificada como Maria do Carmo, de 42 anos, morreu após sofrer um acidente na Avenida Guaicurus, na frente do Museu José Antônio Pereira, prensada entre dois veículos, um Fiat Strada da Águas Guariroba e um caminhão limpa-fossa.
Segundo apuração, a mulher parou com sua moto no semáforo entre os dois automóveis. Assim que o sinal abriu, o motorista do caminhão (que estava atrás dela) acelerou, fazendo com que ela fosse prensada no carro da frente.