O pai de santo Robson Faciroli, de 44 anos, prometia acolhimento para atrair adolescentes e estuprá-los em um terreiro de candomblé no Bairro Taquarussu, em Campo Grande. É o que aponta a investigação da DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), que já identificou 11 vítimas do religioso. E ainda podem aparecer mais.
A polícia prendeu Faciroli na terça-feira (30) depois que uma das vítimas procurou a delegacia e pediu ajuda após passar a noite sendo espancada. Essa vítima será chamada pela reportagem de José, porque, como se trata de crime envolvendo menores de idade, as identidades serão preservadas.
José revelou que naquele momento haveria outro adolescente no imóvel, que foi dopado e estuprado pelo pai de santo durante a madrugada. A polícia foi ao terreiro, encontrou marcas de sangue e o adolescente inconsciente. "Violentamente agredido e estuprado", descreve a delegada Nelly Macedo.
A policial explica que, a partir daquele momento, o pai de santo foi preso e a investigação começou. "Foi apurado que havia três adolescentes na noite anterior. Ele geralmente atraía esses menores oferecendo bebida e droga", disse a delegada. Naquela noite, Robson começou a ficar violento, agrediu José e dopou outro menor com medicamento. "Ele não tinha como reagir", afirma a delegada.
Câmeras registraram o momento em que o adolescente dopado é arrastado para um cômodo, onde foi violentado e encontrado inconsciente. "Muito machucado, principalmente no rosto", diz Nelly. Ele foi socorrido e já recebeu alta, segundo a polícia.
O pai de santo, preso, negou o crime e disse que estava dormindo durante a madrugada. Após ser confrontado com as imagens da câmera de segurança, alegou que não se recordava dos fatos.
Como agia? O perfil de Faciroli era de um homem religioso e bondoso. Ele atraía os adolescentes, geralmente em vulnerabilidade social, na promessa de acolhimento. "Oferecia alternativa, dizia que iria cuidar desse adolescente. No início, parecia uma boa pessoa, mas mudava depois", explica a delegada.
Como foi o caso de José, que, aos 13 anos, foi vítima do pai de santo. Aos 14, o menor foi morar no terreiro com Robson. Apesar de publicar vídeos nas redes sociais com José, onde o pai de santo ironiza sobre os abusos e mostra o menor com presentes, a realidade era bem diferente. Na delegacia, José contou que Robson tem "personalidade agressiva e violenta", o que também é enfatizado pela Polícia Civil. "Autor de crimes violentos", disse Nelly.
Até o momento, 11 vítimas foram identificadas, mas esse número pode ser bem maior. "Geralmente são meninos, entre 13 e 16 anos, que têm vergonha de denunciar e têm medo, porque ele coagia essas vítimas", explica a delegada. Faciroli utilizava o fato de os menores saberem que ele já foi condenado por homicídio e então os ameaçava. Os familiares desses adolescentes desconheciam sobre os abusos.
