Familiares e amigos dos policiais militares Valdeci Alexandre da Silva Ricardo e Bruno Cesar Malheiros dos Santos -acusados pelo homicídio do ex-vereador Wander Alves Meleiro, conhecido como Dinho Vital, romperam o silêncio na tarde desta quarta-feira (30) e se reuniram em frente ao Fórum de Anastácio, onde acontece audiência de instrução e julgamento com a oitiva de testemunhas que estavam presentes na festa de aniversário da cidade, onde se iniciou toda confusão. Testemunha crucial do caso, um ciclista que teria presenciado a morte de Dinho naquele 8 de maio, também foi ouvida nesta tarde.
O JNE acompanhou a manifestação e foi contabilizado quase 100 pessoas em frente a Comarca, no início da audiência. A mãe do cabo Bruno César, Elaine Malheiros, 49 anos, rompeu o silêncio. Disse que sente muito pela mãe do ex-vereador, mas que acredita na índole e profissionalismo do filho. “Assim como todas as mães, eu compreendo a dor da outra família, mas eu também sou mãe. Então o que eu espero é que a justiça seja feita. E que toda a verdade apareça”, disse.
Já mãe do sargento Valdeci, Edileuza Maria da Silva, de 65 anos, disse que o filho foi obrigado a reagir. “Eles agiram de legítima defesa, porque estavam lá para salvar a vida dele e de outras pessoas. Eles não trabalham em benefício próprio, ele tem 15 anos de polícia, ele estudou para chegar até aí, nunca teve nenhum caso parecido, com certeza ele foi obrigado a reagir dessa forma”, disse com os olhos marejados.
Um dos irmãos de Valdeci, presente no local, Valmir da Silva Celestino, de 42 anos, também se manifestou. “Quando o Dinho voltou armado, as pessoas cobraram os policiais que estavam no local dizendo ‘vocês têm que fazer alguma coisa’, então eles não poderiam ficar de mãos atadas. Tem testemunha que ouviu os policiais mandando o Dinho baixar a arma, mas aconteceu infelizmente o confronto”.
O fato ocorreu no dia 08 de maio, aniversário da cidade, Dinho estava alterado em um evento onde era comemorado o aniversário da cidade, em uma chácara na BR-262. Dinho discutiu com o ex-prefeito Douglas Figueiredo e o atual, Nildo Alves de Albres, já que naquele momento, Nildo estaria apoiando Douglas como pré-candidato à prefeitura de Anastácio, o que Dinho não aceitava. Após calorosa discussão entre Dinho e outros presentes no almoço, ele teria ido com um amigo até sua chácara e buscado uma pistola .9mm, dizendo que iria resolver a situação.
Os policiais militares Bruno César e Valdeci estão presos desde o dia 17 de maio, mesmo a Corregedoria da Polícia Militar, após produzir minucioso relatório sobre o crime, absolver os militares, já que agiram com “o estrito cumprimento de um dever legal”.
Perito e testemunha ‘derrubam’ tese de execução em morte de ex-vereador
A tese de execução do ex-vereador de Anastácio, também perdeu força com o avanço das investigações. Inicialmente, o laudo do exame necroscópico indicava que o tiro fatal o havia atingido pelas costas, mas uma perícia complementar solicitada pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) revelou que os projéteis que feriram Dinho Vital entraram pelas laterais e pela frente do corpo.
Segundo o mesmo perito médico legista, Ivan de Oliveira Chaves, responsável pelo primeiro laudo, também elaborou o novo documento a pedido do MP, descreve que um dos tiros atingiu Dinho Vital “na região posterolateral direita (de trás para frente, parcialmente lateralizado), saindo pela região anterolateral esquerda”.
O outro disparo entrou pela “região anterolateral esquerda (de frente para trás, parcialmente lateralizado), transfixando a região abdominal, o perito criminal constatou que não houve tiro à queima-roupa.
Outro ponto crucial adicionado ao inquérito foi o depoimento de uma testemunha, um ciclista que passava pela BR-262 próximo ao local onde Dinho Vital foi abordado por policiais militares à paisana. Segundo a apuração, esse homem procurou a Corregedoria da Polícia Militar para relatar o que viu e ouviu. Ele disse que havia parado na rodovia para consertar a corrente da bicicleta quando ouviu gritos: “Polícia, abaixa a arma! Larga a arma! Aqui é a polícia!”. Em seguida, ouviu tiros e viu um homem cambaleando e apertando o abdômen. Acrescentou que não houve mais disparos após este momento.
O ciclista narrou que tudo aconteceu em frente a um veículo preto parado às margens da rodovia – o Fiat Toro de Dinho – e um carro branco logo atrás. A presença da testemunha no local e horário dos fatos foi confirmada por um vídeo de câmera de segurança do posto Taquarussu.
Corregedoria inocenta Policiais Militares
Durante as investigações, foram ouvidas 35 pessoas e analisadas imagens de câmeras de segurança, imagens gravadas na festa e conversas de WhatsApp. Com base nisso, a corregedoria definiu que os dois policiais atiraram em Dinho Vital durante “o estrito cumprimento de um dever legal – o de defender os convidados de uma festa em Anastácio de um homem armado – e por isso, decidiram pela excludentes de ilicitudes na ação deles”.
Segundo o relatório, a morte de Dinho foi consequência das ações dos policiais, mas estas foram justificadas pelo comportamento ameaçador do ex-vereador, que empunhava uma pistola calibre 9 mm. O documento afirma que, durante a abordagem, foi feita a devida verbalização para que Dinho abaixasse a arma, conforme relatos de testemunhas. “Portanto, diante do apurado cotejo das peças que compõem o presente inquérito policial militar, concluímos que a conduta investigada, embora típica, se coaduna com as excludentes de ilicitudes previstas no ordenamento jurídico vigente”, consta no texto.
O relatório, aprovado pelo corregedor-geral da PM, coronel Edson Furtado de Oliveira, foi encaminhado ao Ministério Público.